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BRASÍLIA PATRIMÔNIO VIVO

 

A brasiliense Maibe Maroccolo, 35 anos, fez jornalismo, formou-se em design de moda, mas se tornou especialista mesmo em outra área: fazer bem ao planeta. Foi um longo e bem-sucedido percurso em busca das próprias raízes que a fizeram descobrir uma forma de atuar na moda de forma não agressiva ao meio ambiente. 

A frustração com a indústria da moda chegou bem cedo, logo no início da carreira. “Eu sentia que estava trabalhando em uma área muito vazia e superficial. Um mercado que visava muito a imagem, o egocentrismo e as marcas. Aquilo me incomodava muito.”

Curiosamente, a solução apareceu durante os seis anos em que morou em Londres. Ela encontrou um curso de mestrado sobre moda e desenvolvimento sustentável. “Neste momento, caiu a minha ficha. Para continuar no mercado de moda, eu precisaria buscar algo que fizesse sentido para mim.” 

Maibe foi se aprofundando cada vez mais no tema e resolveu estudar o impacto dos tingimentos sintéticos da grande indústria. Aos poucos, foi acordando para as opções de tingimento naturais e se lembrando de memórias afetivas da infância.

A mãe dela, por exemplo, tinha o hábito de pintar o cabelo com casca de cebola. Assim, a designer foi percebendo que as alternativas estavam mais perto do que ela imaginava. “Precisei morar seis anos na Europa para me reconectar com minha família e com as plantas da minha cidade”, observa Maibe. 

Em meio a esse processo, ela perdeu a mãe, que sempre foi um referencial, e confiou ainda mais nesse trabalho para se sentir mais próxima a ela. De volta a Brasília, Maibe iniciou uma pesquisa sobre o potencial tintório das plantas do cerrado e começou a desenvolver alguns produtos, que tiveram um bom resultado de vendas.

Logo ali no cerrado
Porém, a maioria das pessoas que a procuravam estavam em busca de entender o funcionamento do processo. Em 2011, nasceu o projeto Mattricaria, que faz o mapeamento das plantas, tem uma linha de produtos e oferece oficinas em todo o país, divulgando as técnicas de tingimento natural.

“Os pigmentos químicos são ricos em metais pesados, como o chumbo, que são substâncias tóxicas e altamente poluentes”, afirma. Na opinião da pesquisadora, o principal problema é que a indústria não trata a água utilizada no processo de maneira adequada e isso atinge rios e afluentes e, consequentemente, as pessoas que consomem aquela água. O que falta é consciência e, enquanto esse momento não chega, ela garante que a natureza oferece ótimas opções para substituições.

Atualmente, a dona da Mattricaria se aventura em um campo de pesquisa inédito para ela. O universo das cores minerais é o tópico atual nas pesquisas de Maibe. Para isso, ela estabeleceu parcerias com geólogos da cidade, que têm um grande trabalho de mapeamento do solo brasileiro. Está iniciando os testes. 

Gradativamente, a marca está aumentando a cartela de possibilidades e ampliando o leque de trabalho para além da moda. “Com um salão de beleza brasiliense, estamos criando tintas naturais para pintar cabelos”, complementa.

Essa busca por novas soluções a fim de poupar o meio ambiente e dar mais qualidade de vida às pessoas é vista como sustentável. Embora acredite de forma convicta na importância desse movimento e na possibilidade de realizar uma mudança na mentalidade das pessoas, a expressão não é a favorita de Maibe para descrever seu trabalho. “O termo sustentabilidade me incomoda um pouco porque as pessoas têm se apoiado muito nele como ferramenta de venda”, esclarece a brasiliense.

Foi buscando novas soluções para o mercado de moda que Maibe encontrou uma maneira de se sentir realizada na profissão que escolheu. Sobre o objetivo dela com a Mattricaria, ela garante que ele é – acima de tudo – repassar o conhecimento que construiu ao longo dos anos de estudo e dedicação, proporcionando uma moda mais limpa e transparente em sua terra natal. 


ASSISTA A ENTREVISTA DE MAIBE MAROCCOLO

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